No segundo artigo da série “Petrobras em Liquidação”, o Sindipetro PA/AM/MA/AP mostra como a venda do Urucu deixará a porta aberta para tragédias socioambientais como os vazamentos da Hydro, em Barcarena (PA)
Não foi à toa que a direção bolsonarista da Petrobras colocou à venda a Província do Urucu (AM), justamente localizada numa área de floresta. Fora os impactos nos preços do gás e o prejuízo econômico de maneira mais ampla, a tentativa de privatização de Urucu está diretamente associada a potenciais novos problemas socioambientais na região amazônica. Já é notório que o governo Bolsonaro flexibiliza a legislação e a fiscalização, permitindo o garimpo ilegal e queimadas por todo o lado. Neste cenário, a possível venda de Urucu seria mais um risco à população e a à floresta. Exemplos não faltam: há dois anos, foi revelado mais um vazamento da Hydro no município de Barcarena, prejudicando toda a região do Baixo Tocantins, no Pará.
Os prejuízos socioambientais são mais um dos apontamentos do estudo Petrobras em liquidação: a venda do polo do Urucu no Amazonas e suas consequências para os trabalhadores, realizado pelo Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese). Tragédias socioambientais, como as provocadas pela Vale em Brumadinho e Mariana, ambas cidades mineiras, destroem florestas, rios e a vida da população, inclusive dos trabalhadores. No caso de Brumadinho, dos cerca de 300 mortos com o rompimento das barragens da Vale, cerca de 242 eram trabalhadores diretos da empresa.
Não é coincidência que a privatização da Petrobras volte seu foco para a Amazônia. Durante o governo Bolsonaro, a floresta e a vida dos amazônidas são atormentadas: o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) demonstrou que 529 km² de mata foram destruídos em abril deste ano, 171% a mais que no mesmo mês de 2019. Além disso, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou, em 2020, o maior número de focos de queimada dos últimos 13 anos. O Brasil retrocede! E as causas são o enfraquecimento da fiscalização das leis de responsabilidade ambiental, ou seja, vista grossa do governo, cuja base de apoio é composta por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros ilegais. Enquanto isso, a população pobre da região tem sua vida destruída.
Os acidentes da Vale servem de alerta. Empresas privatizadas de grande porte colocam o lucro acima de qualquer valor, inclusive da vida de seus trabalhadores. Antes estatal, a Vale foi vendida por três bilhões de dólares em 1998 e, hoje, a empresa ganhou mais de 90 bilhões só de lucro líquido – a metade desse montante foi transferida como dividendos para as contas de seus acionistas. Fora do controle do Estado e em busca do lucro incessante, empresas que operam em atividades de grande responsabilidade tornam-se uma bomba-relógio para o Brasil.
Diante dos exemplos da Vale e da Hydro e num contexto de prejuízos à população e à floresta amazônica, a privatização da Província do Urucu abre as portas para que empresas privadas adentrem ainda mais a Amazônia em busca de lucro. Procurando novas formas de explorar a região, sem a menor responsabilidade com a população, tornam-se mais um motivo de medo: manejam recursos perigosos tentando, a todo momento, cortar custos.
Por isso, repetimos: todos e todas à luta contra a privatização de Urucu, da Petrobras e das estatais brasileiras!