Qual o ministério mais importante no meio da pandemia de Covid-19? O Ministério da Saúde, claro. E qual o nome do ministro? Ninguém sabe! É que depois de duas quedas em menos de um mês (Mandetta e Teich), um novo ministro ainda não foi nomeado. Interinamente, conduz a pasta Eduardo Pazuello, general de divisão do Exército Brasileiro.
Nenhum país no mundo inteiro se deu ao luxo de exonerar dois ministros da saúde no auge da epidemia. Nenhuma país do mundo colocou no comando da saúde um ministro que nunca dirigiu sequer um posto de saúde. Não é difícil de perceber que o Brasil navega sem rumo. E que as consequências serão graves e longas para o país.
As demissões, como acompanhamos, foram motivadas por divergências entre os ministros e o presidente. Enquanto os dois médicos defendiam o isolamento social como principal medida protetiva de uma doença que não tem cura e nem vacina, Bolsonaro ignorava os dados de doentes e mortes. E, além disso, queria tomar o lugar dos médicos: receitar cloroquina a doentes de Covid, mesmo sem comprovação de eficácia. Por fim, como foi publicado na última semana, ficou claro que a cloroquina não só é ineficaz como também diminui muito a chance de cura dos contaminados.
Bolsonaro exonerou dois médicos para colocar como ministro o general Eduardo Pazuello, que não é médico, nem enfermeiro, nem profissional de área alguma da saúde. O general é graduado em Ciências Militares na Academia Militar das Agulhas Negras. Importante dizer: a ciência militar é o ramo da ciência que se preocupa com o estudo dos fenômenos que constituem o “estado de guerra”, desde o conflito inicial ao confronto final. A ciência militar estuda as estratégias de generais, imperadores e presidentes visando à defesa armada do território nacional. E, como se vê, a ciência militar nada tem a ver com saúde e com o combate à pandemia.
A nomeação do general correu porque o militar foi o único que aceitou recomendar a cloroquina para o tratamento de Covid-19. Outros militares seguem sendo nomeados para cargos técnicos no ministério da saúde: um fenômeno que não se via desde a ditadura militar. Negando a epidemia, ignorando médicos e especialistas, Bolsonaro adia ainda mais a retomada econômica do país, gerando mais doentes, mortes, desemprego, insegurança. Nem resolve a epidemia, nem resolve a recessão. Querendo impor respostas para as quais não tem o menor preparo, mostra que é incapaz de conduzir o Brasil em meio à maior crise desde a de 1929.