O FOGO E A ELITE AMAZÔNICA

A escalada de queimadas que assolou a Amazônia este ano ganhou um novo capítulo repleto de absurdos: a Polícia Civil deflagrou operação em Santarém (PA), resultando na prisão de quatro brigadistas conhecidos como “guardiões da floresta” da ONG Brigada de Alter do Chão. Sem a menor evidência de culpa dos brigadistas, o inquérito é um paradoxo: num estado imerso em conflitos fundiários, com madeireiros, fazendeiros e grileiros cometendo crimes de toda ordem, alguém acredita que os culpados são quatro ambientalistas?

Os incêndios se alastraram pela Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão em setembro deste ano. O fogo se espalhou, consumindo uma grande área de mata nativa. Nas redes sociais, rapidamente correram imagens dos incêndios destruindo a mata, que fica às margens de uma das mais belas praias de água doce do Brasil, com importância ambiental, cultural e econômica para a comunidade que vive do turismo.

No dia 26/11, os brigadistas foram presos sob suspeitas de “atear fogo em parte da vegetação da APA Alter do Chão”, alegou a polícia civil. Mas a prisão não refletia a realidade. Movimentos sociais do Brasil e do exterior reagiram à arbitrariedade. Na imprensa, jornalistas apontaram as mentiras e inconsistências da Polícia Civil e da Justiça ao manter a prisão. Sob pressão, o governador Helder Barbalho (MDB) foi obrigado a intervir, pedindo seriedade na apuração sobre os culpados. Os brigadistas, por fim, foram soltos.

O episódio demonstra como a elite na Amazônia age: comete seus crimes e, no final, quer colocar a culpa justamente em quem luta pela região. O caso de Santarém mostra ainda mais: como o absurdo foi naturalizado.

Uma ONG que tem como missão combater incêndios foi descaradamente acusada de destruir a mata. O caso mostra que precisamos estar atentos ao que diz a imprensa e o que diz o governo. Os incêndios em Alter do Chão são fruto da especulação de terras! A nós, cabe a pergunta: nessa festa da destruição, o que resta à população pobre de Santarém?

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