Fiscais do Estado adentrando um espaço literário para apreender livros considerados “inapropriados”. Poderia ser na Idade Média, poderia ser na Alemanha nazista ou na ditadura civil-militar do Brasil. Mas o caso aconteceu na última semana, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro (RJ), por determinação do prefeito Marcello Crivella (PRB). Duas palavras definem o caso: censura e homofobia!
A censura começou no dia 5/9, quando o prefeito, que é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, determinou que exemplares da história em quadrinhos “Vingadores: a Cruzada das crianças” fossem recolhidos. O motivo? O livro contém a imagem de um beijo entre dois personagens homens. Informalmente, em sua conta no Twitter, o prefeito declarou que a obra traz “conteúdo sexual para menores”.
Mas a censura teve um efeito contrário, dando ainda mais visibilidade à imagem: na internet, foi um dos assuntos mais comentados e até capa da Folha de S. Paulo, no dia seguinte. A partir de então, se seguiu uma intensa batalha judicial, com uma decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Claudio de Mello Tavares, censurando as obras.
No fim das contas, o presidente do STF, Dias Toffoli, encerrou o caso, impedindo a censura. Mas o fato expõe dois desdobramentos: o primeiro é que políticos conservadores no Brasil, ao não conseguirem dar respostas efetivas à população, recorrem a uma pauta de costumes, baseada em preconceito contra a população LGBT+. Não garantem emprego, mas dizem que estão salvando o país proibindo revista em quadrinhos.
E o segundo – e mais importante – é o de que a direita pode ser combatida. No caso das HQs, Crivella amargou uma estrondosa derrota. Recorreu ao poder judiciário, mas foi travado pela população. Tentou ganhar visibilidade, mas só conseguiu que o carioca relembrasse o quanto o Rio segue sem prefeito. Cada vez mais é preciso expor à população a hipocrisia dos atuais dirigentes do Brasil! Por que o amor incomoda tanto?